Escrever sonetos é um desafio. Ainda mais quando a gente tá começando. Eu adorava. Tinha um lugar aonde chegar, uma rota a seguir. Procurava rimas, palavras com o tanto certo de sílabas, quebrava a ordem natural das frases a fim de colocar as tônicas em seus lugares. Da constante leitura de Camões, desenvolvi preferência pelos versos decassílabos. Mas escrever sonetos era um divertimento todo meu. Tirando o soneto que escrevi pra Vanessa (o primeiro de todos) foram bem poucos aqueles que chegaram a causar alguma reação nos meus leitores. Leitores forçados, na época.
Falamos de mais de 15 anos atrás, eu começava a mexer com poesia. Escrevia em cadernos, depois, copiava o soneto numa folha avulsa, dobrava, botava no bolso e obrigava amigos, conhecidos e desconhecidos a ler e a me dizer o que achavam. As pessoas já me achavam um cara com ideias um tanto extravagantes, lia muita filosofia e falava sobre, então, quando apareci com poemas, ninguém estranhou. Mas como todas as ideias que tinha e conversava sobre, eram coisas só minhas.
Tudo mudou quando fui pra praça ler os meus sonetos e outros poemas metrificados. Foi um dia bonito. Um dos primeiros momentos em que me senti poeta, e underground também, posto que eu mesmo tinha organizado o evento, com a ajuda da musa, da sogra, da minha mãe, e amigos e amigas, além da minha irmã.
Enquanto lia, imerso na realidade urbana de Porto Velho, vendo pessoas passando, a polícia passando, a realidade gritando bem ali, me senti deslocado. Aqueles poemas funcionavam no espaço pequeno e penumbroso do meu quarto, mas ali, à luz da tarde, e no aberto da praça, as palavras pareciam morrer.
Acrescente a isso a dificuldade que era ler aqueles poemas metrificados que tinham sido planejados pra leitura e não pra proclamatura. Digo mais uma vez: a experiência foi única, diria até maravilhosa, me senti eu, me senti livre, senti que fazia algo importante naquele dia, mesmo assim, sabia que precisava mudar. Descobri ali que queria alcançar as pessoas, os transeuntes, os policiais, as pessoas do bairro, do país, do mundo e pra isso, tinha que mudar minha poesia imediatamente.
Decidi que não ia mais escrever difícil, ia escrever fácil. Ia escrever como se fala, como a gente fala no dia a dia, em casa, no bar, no trabalho. Tal decisão se justificava pela ideia de escrever pra apresentar em palcos, escrever pra declamar, queria facilitar pra mim, que ia ler os textos em voz alta, e pra quem tivesse ouvindo, posto que não iam precisar procurar o significado das palavras no dicionário.
Posso dizer que fui bem-sucedido. Depois de um tempo, as pessoas estavam entendendo o que escrevia, estavam falando sobre, debatendo. E até mesmo aquelas pessoas que pegavam o meu poema só pra discordar dele, me davam certa alegria, posto que pra discordar, precisavam ler e entender. Pelo menos, pensar que entendeu.
A poesia pulou dos livros, passou a estar comigo cotidianamente, e muitos dos meus versos apareciam com naturalidade. “Não agradeço à dor, porque quem lutou fui eu”. Legal, né? E essa aqui: “sempre que uma crise aparece, meu coração faz as malas e foge pro interior”. Mais uma: “Já municiei o carrasco, dei mais tropeços do que passos, mas aprendi”. Só mais essa: “mudar é mais que parecer mudado, é se fazer casulo de outra história”.
Mas não é incomum que a aparente simplicidade cause forte a impressão de ser muito fácil escrever o que escrevo, o que acaba trazendo olhares desdenhosos, em especial, dos que se apegam à poesia dita difícil como um distintivo moral ou intelectual. Argumento que simples é o olhar que só vê o que tem na vista.
Falando da parte boa, não acontece pouco de eu conseguir alcançar muitas pessoas. Sim, essa poesia despojada, de bermuda e havaiana tem esse mérito, corre sempre o risco de acertar qualquer um. E acerta!
Teve uma vez, por exemplo, que comecei a fazer uns folders com poeminhas, pra distribuir e distribuí. Na época, fazia poesia no Espaço Pirata, pub de Rock de um amigo baterista, o Alexandre. Um dos conhecidos que recebeu o folder chegou pra mim e disse que gostou, mas que de início tinha pensado que era poesia.
Outra coisa boa de escrever fácil é que de vez em quando o texto funciona nas redes sociais, alcançando milhares de pessoas. Infelizmente, muita gente confunde a gente com autoajuda. Mas vamos deixar essa raiva pra outro momento.
Dúvidas, críticas e sugestões, é só mandar pro meu e-mail [email protected] ou, me encontre nas redes sociais (Instagram, Facebook, Tiktok, Threads): @zedanilorangel. Tenho exemplares do meu livro mais recente “Moedor Gourmet”, além de zines para vender, poesia e prosa. Outra forma de apoiar o poeta é assinando a minha revista digital: Revista Zeh!
Grande abraço e até já, parente!
Mín. 22° Máx. 31°