Salve Beradage !
Tudo beleza ? Tomara que sim !!
Na matéria de hoje bora conhecer um tanto mais desse projeto massa promovido pelo SESC, que contemplou Artistas de Porto Velho-Rondônia à circular por esse imenso Brasil através da Música, e da troca de experiências na Vida e na Arte ! Nesse final de semana passado tem rolado gravações com o Paneiro do Norte ( Bado, Quilomboclada e Sandra Braids ), em pleno Barco no Cainágua !! Então nada melhor do que a gente falar um tanto mais sobre essa ação Cultural Beradera !
Mas do que se trata mermo esse Belo Projeto ?
De acordo com as palavras do próprio Departamento Nacional do Sesc:
" A música está presente na vida de todos nós, nas diversas épocas e civilizações, e anda de mãos dadas com a cultura e a história de um país. É uma forma potente de interação, além de ser um fator determinante da construção social, cognitiva, corporal e emocional do ser humano e nas leituras de mundo de cada um. A realização de programações musicais, especialmente as circulações de espetáculos, envolvem diversos profissionais de uma cadeia produtiva que é responsável por grande parte da economia da Cultura no país, contribuindo diretamente com a promoção do empreendedorismo, geração de empregos e indiretamente para desenvolvimento econômico local através da contratação de dezenas de serviços necessários a realização de projetos culturais como transporte, alimentação, hospedagem entre outros."
O que é o Sonora Brasil ?
Promovido pelo Sesc desde 1998, o Sonora Brasil é um projeto que apresenta programações musicais e faz parte da proposta de desenvolvimento das artes, com enfoque na valorização, na preservação e na difusão do patrimônio cultural brasileiro. É com muita alegria que são celebrados os 26 anos dessa iniciativa que valoriza as mais diversas manifestações musicais e reforça a noção de coletividade e pertencimento cultural. Nesse sentido, o Sesc se orgulha de potencializar essa produção artística de forma nacional, por meio de seus circuitos itinerantes, dando visibilidade a artistas, livre acesso ao público, contribuindo na formação de plateias e promovendo um dos projetos mais relevantes sobre a diversidade musical brasileira. Que venham muitos mais anos do Sonora Brasil e que a música continue a ser motivo de reflexão, união e esperança, proporcionando alegria para a população brasileira.
O ‘Sonora Brasil’, considerado o maior projeto de circulação de música do Brasil, chega em mais uma edição com o tema ‘Encontro, tempos e territórios’.
O Sonora Brasil é um projeto que apresenta programações musicais e faz parte da proposta de desenvolvimento das artes, com enfoque na valorização, na preservação e na difusão do patrimônio cultural brasileiro. São 26 anos desta iniciativa que valoriza as mais diversas manifestações musicais.
O tema deste ano ‘Encontro, tempos e territórios’ destaca um aspecto fundamental do Sonora Brasil, que é o olhar, a escuta e a valorização das territorialidades, da diversidade e das memórias por meio da expressão de seus autores e intérpretes.
Nesta edição do projeto circulam pelo país os artistas rondonienses Bado, Quilombocalda e Sandra Braids que foram selecionados em curadoria nacional para representar Rondônia e Região Norte. Tal feito, destaca as ações culturais de Porto Velho e Rondônia no cenário cultural nacional.
Legal a gente conhecer também o texto Oficial para publicação Sonora Brasil intitulado " Encontros, Tempos e Territórios ", belamente escrito por Betania Alves de Avelar & Eduardo Melo de Santa Jr. :
" O Estado de Rondônia compõe a Amazônia Ocidental e possui uma história
marcada por diversos períodos migratórios, impulsionados por diferentes períodos
econômicos na região. Essa realidade permeia os processos constitutivos de memória e
identidade que se encontram em permanente disputa e reelaboração. Rondônia é, antes de
tudo, território ancestral forjado em tempos de encontros e dispersões, com sua
composição sócio-histórica dando-se também pelas confluências entre povos originários,
afro-antilhanos e imigrantes.
Esses povos constituídos na relação com o caudaloso Rio Kayary, o imponente
Rio Madeira, mobilizam suas lutas e sonhos neste Velho Porto, forjando novos trilhos
sobre a velha ferrovia fantasma. Assim, são criadas e recriadas fronteiras culturais no
território, manifestadas na linguagem, hábitos, costumes, culinária e sonoridades.
Nesse contexto de múltiplos fatores e contribuições que a Música Popular
Beradeira ou MPBera surge como um estilo que combina diversos gêneros musicais, com
a proposta de valorizar a cultura amazônica através de suas temáticas líricas, poéticas e
arranjos musicais.
Um desses personagens importantes para a música e a cultura local é o cantor e
compositor Erivaldo de Melo Trindade, o qual conhecemos por Bado, um artista nativo,
oriundo do movimento “Grito de Cantadores”, ocorrido em 1979, no SESC Rondônia,
em Porto Velho. Sua música retrata os elementos desse território diverso, pujante, que
evoca tempos distintos na cultura amazônica refletida na memória, nos costumes e na
história desses povos que vivem nessa região da Latinoamérica.
Esse universo poético cultural que aflora o imaginário simbólico está registrado
em alguns de seus trabalhos, como os discos “Porto das Esperanças” (1992) e “Amazônia
em Canto” (1994), compilação musical em que participa com outros cantores e cantoras
de nossa terra. Em 2005, lança o seu álbum solo intitulado “Aldeia de Sons”, enfatizando
a ancestralidade dos povos originários com “Um canto a favor das matas”, passando pela
histórica “Estrada de Ferro Madeira-Mamoré” ao tempo do mundo global em “Mundos”,
conectando os diferentes tempos e espaços que compõem a diversidade desse território.
Seu trabalho mais recente é o Songbook Bado “Amazonialidades – nos trilhos das
Canções” (2024) que registra a obra do artista, e parte da memória cultural da cidade,
vivenciada e acumulada nos trilhos da história musical e cultural do artista em Rondônia.
Em meio às mudanças de eixo, temáticas e paradigmas estruturais da sociedade e
da cultura, é que surge em Porto Velho uma outra manifestação cultural conduzida pela
geração da música independente da capital, nos anos 1990, oriunda do hip-hop, do punk
rock e outros estilos do underground. Trata-se do “Movimento Beradeiro”, com fortes
influências dos modos de vida ribeirinha e das manifestações culturais do Distrito de
Nazaré, no Baixo Madeira, com o grupo Minhas Raízes, como também dos artistas da
geração anterior, como Bado, Binho, Zezinho Maranhão, Augusto Silveira e Francisco
Lazaro (Laio), dentre outros. Nesse novo cenário cultural urbano surgem diversos grupos,
dentre eles a banda Quilomboclada.
Quilomboclada traz em si a ideia da ressignificação de valores da cultura
dominante que a Música Popular Beradeira pretende questionar. O nome vem da fusão
dos termos quilombo, que designa resistência, e “caboclada”, o habitante local/nativo. A
banda aborda em suas letras essa nova configuração de sentidos que outrora estava por
vezes invisibilizado pelos canais da cultura oficial. Atualmente ela é formada por Béra
Ákilas e Samuel Béra (no vocal), Lauriano Pororoca (bateria), Mestre Xoroquinho
(percussionista), Adriano Pato (baixista), Jacob Tarauacá (guitarra) e Dj Vilber (DJ), que
buscam organizar musicalmente a ideia de pertencimento ao território.
Inspirados pela cultura ribeirinha e amazônica, reivindicando o espaço material e
simbólico, a banda defende uma identidade cultural beradeira, cultura local proveniente
da beira do rio, da florestania, dos modos de produção e reprodução da subjetividade
Amazônida. Em sua obra de lançamento, o álbum “Manifestejo”(2022), está presente os
elementos da beradagem trabalhados na identidade beradeira, como na música
“Afroindígena” (2002) , que valoriza o encontro dos povos originários e afrodiaspóricos.
“Beradeiro” (2002) é uma música que desenha o retrato do ribeirinho da beira do Madeira
e suas práticas culturais, muitas vezes desvalorizadas no meio urbano, onde não se
reconhece a dependência dos saberes ancestrais nas mais diversas práticas cotidianas.
A presença feminina na Música Beradeira é bastante significativa, uma de suas
representantes é Sandra Braids. Mulher negra, mãe, militante feminista, beradeira,
umbandista, rapper, compositora e trancista. Se descobre arteira, como ela mesmo diz, ao
se entender militante, mostrando que sua vida artística está intrinsecamente ligada à sua
luta. Inicia a militância aos 13 anos no Movimento Nacional de Meninos e Meninas de
Rua (MNMMR) e mais tarde, em 1999, passa a compor a cena do Hip-Hop. Sandra
recusa-se a ser backing vocal, lugar que era destinado às mulheres nos grupos de rap,
fundando o grupo Ideologia Feminina (IDF) e o primeiro Coletivo Feminino para discutir
o hip hop como um espaço masculinizado. Ela é precursora do rap feminino no estado,
no Movimento Hip-Hop Organizado de Rondônia, que depois viria a ser o Movimento
Hip-Hop da Floresta.
Ao som das batidas das pick-ups dos DJs, Sandra solta rimas como a música
“Rima Positiva” (1999), em que sua arma é o pensamento. Cresceu na luta, tornou-se
mulher, sempre vigilante e pronta para o ataque, suas rimas denunciam as injustiças
sociais, raciais e sexistas, como na música “Me Respeita” (2002). Filha de uma
benzedeira e neta de uma parteira, Sandra percorreu muitos caminhos, mas é na beira do
Madeira que conhece bem os seus direitos, descobrindo que não pode mais viver sem
ritmar, como traz na música “Som da Paz” (2003). Em parceria com Bado e o rap F'Dois,
em “Esperançar” (2022) ela traz a essência da pedagogia freireana, guerreira educadora
popular. Sandra Braids é corpo-território, personificação da confluência negra, indígena
e nordestina, e é do ouro de Oxum que vem seu Axé e sua rima.
É dessa caldeirada musical, que mistura samba, rock, hip-hop e jazz com as
batidas dos tambores ancestrais da capoeira ao carimbó, que a Música Popular Beradeira
banzeira pelo Sonora Brasil (2024-2025). Apresenta novas rotas culturais do estado de
Rondônia, alcançando novos horizontes, desterritorializando fronteiras e
reterritorializando novos conceitos e visões sobre as diversas Amazônias, seus povos e comunidades afroameríndias !
BADO
Bado é cantor, compositor e instrumentista. Nascido em Porto Velho-RO, sua trajetória
com pouco mais de 40 anos se consolida nas trilhas sonoras dos compassos do tempo e
da memória. Constituído de Amazonialidades, combina música instrumental, samba,
blues, jazz e carimbó nervoso dentro de sua aldeia de sons. Entre seus trabalhos estão a
participação no DVD Gente da mesma Floresta (2012), o CD Olhos de Rios (2022) e
Songbook Bado “Amazonialidades – nos trilhos das Canções” (2024) registra sua obra e
parte da história e memória cultural da cidade. Bado segue compondo conexões sonoras
que valorizam as identidades amazônicas. Bado é Amazônia para o mundo ouvir.
QUILOMBOCLADA
A banda que reúne Quilombo e Caboclada traz em sua bagagem a “pancada” como
resistência sonora em defesa do território e da identidade local beradeira e ribeirinha.
Béra-afros e afro-indígenas fortalecidos com ancestrais caboclos misturam hip-hop, rock,
MPB, jazz, disco, soul music e a percussão no ritmo da mais legítima MPBera (Música
Popular Beradeira). Entre o seu repertório está Boicore - clipe oficial (2021) e faixa que
abre o trabalho Manifestejo (2022). Carregando seus remos e artes, Quilomboclada faz
luta e festa no seu sonora béra-quilombo. Então, o convite está feito: “Salve, salve
beradagem, seja bem-vindo a viagem”.
SANDRA BRAIDS
Sandra Braids é mulher negra, mãe, umbandista, rapper, compositora e assistente social.
Militante feminista é precursora do rap feminino na cidade de Porto Velho-RO, entre suas
rimas estão Rima Positiva (1999) e Me Respeita (2002). Filha de benzedeira e neta de
parteira, é beradeira que construiu junto as manas e os manos o Movimento Hip-Hop da
Floresta (MHF) do Norte para o Norte. Sandra é corpo-território, personificação da
confluência negra, indígena e nordestina, e é do ouro de Oxum que vem seu Axé e sua
rima. Sandra Braids é mulher negra nortista que está sempre na espreita pronta para o
ataque.
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