Salve, Beradage !
BORA DE POEMA !
Essa semana tivemos o Dia do Trabalho, dia de refletir sobre o trabalho, a saúde do trabalhador, da trabalhadora. Hoje, trazemos três poemas do José Danilo Rangel, que abordam o tema de forma muito atual e crítica.
No primeiro poema, ele questiona o amor ao trabalho, sobrepondo ao discurso do “ame o que faz” ao da reciprocidade, o que resulta na desigualdade da relação pessoa que trabalha/trabalho.
Em seguida, no poema “O Seu Maior Inimigo”, em que o poeta denuncia o discurso que muitas vezes se esconde atrás dos discursos de positividade, apontando para a possibilidade do trabalhador/a estar em contradição com a própria situação.
Por fim, no terceiro poema, o poeta assinala os males de se usar o corpo como recurso. Em tempos de auto exploração, é preciso cuidado!
QUE AO AMAR O SEU TRABALHO
Que ao amar o seu trabalho,
você saiba exigir que o seu
trabalho ame você de volta;
Que respeite os seus horários,
seus limites, os seus descansos,
as suas necessidades
Que não atente contra a sua
dignidade, a sua inegociável
dignidade!
Com d de direitos trabalhistas!
Que você tenha essa sorte,
e se não tiver, que lute pra ter,
que não espere, não pague pra ver,
que lute!
Que se junte com os colegas,
que se organizem, conspirem
e se for preciso, façam uma
revolução!
Que você não ame um trabalho
que não ama você.
O SEU MAIOR INIMIGO
Que o problema não é
o trabalho precário, é você
que não ama o que faz
Que o problema não é
a desigualdade, é você
que tá se esforçando pouco
Que o problema não é
o capitalismo, é você,
duvidando de si, do sonho
Taí o que querem dizer,
quando dizem pra você
amar o trabalho,
Trabalhar enquanto eles
dormem, acreditar em si
mesmo e nunca desistir
E quando você concorda
com isso, curte, comenta,
compartilha,
Podemos assumir que
sim: há razão em dizer
que você é o seu maior
Inimigo.
O CORPO EM GREVE
Comparar o corpo com
uma fábrica, como se suas
funções fossem executadas
por funcionários, andar, correr,
trabalhar, amar e então pensar
na greve desse corpo
Pensar que o corpo entra
em greve, o corpo que é seu,
que é meu, que a gente acha
que é, que a gente acha que é
um recurso, a gente acha que
pode usar de qualquer jeito
Um corpo sem descanso,
e tudo nele sem descanso,
a mente sem descanso, um
todo que se exaure ativa
alarmes, dores de cabeça,
enjoos, desatenções, enfados
O corpo avisa, o corpo implora,
pare, por favor, pare, antes
de não mais poder, antes
de colapsar
Depois do colapso, uma
fábrica não volta a ser
a mesma, é preciso outra,
o corpo não volta a ser
o mesmo e não tem outro
Agora é um corpo que
aprendeu a desligar, um
corpo além do seu limite
O corpo não é um recurso,
é tudo, a gente é o corpo,
o corpo é a gente
O corpo não sabe o que é
dinheiro, não sabe o que
é trabalho, sabe pesos
e distâncias, raciocínios,
A gente não é mais que
o corpo, sem o corpo
não é mais.
De a gente se acabar,
o corpo acaba.
*Como Psicólogo, José Danilo Rangel atua na interação entre a organização do trabalho e a pessoa que trabalha, em prol da saúde mental dos trabalhadores !
( Gosto muito dos Poemas desse moço e em breve teremos mais de suas Poesias ! ! )
A REMADA CONTINUA . . .
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