Salve, Beradage !

Como vocês estão ?

Espero que esteja tudo bem !

Na matéria Especial de hoje, bora conhecer um tanto da História de uma Personalidade da nossa terra, que pela caminhada firme, vem se apresentando como um dos nossos Grandes Artistas. Sim, meus Beras !

Aqui a Cultura são as Pessoas !

Bora deixar que as próprias palavras do nosso Ilustre Convidado, nos conte essa Bela História

Com vocês EDUARDO SANTANA JÚNIOR :

Eduardo Santana Júnior !

Comecei a gostar de música na minha infância em Belém do Pará com os discos que os meus pais colocavam na “eletrola”, isso estou falando lá pela segunda metade da década de 1970. Os cantores mais ouvidos até então eram: Roberto Carlos, Martinho da Vila, Beth Carvalho e Raul Seixas.

No início da década de 1980 quando cheguei com oito anos de idade em Porto Velho, ainda Território Federal de Rondônia, meu pai, seu Eduardo Santana ( de quem herdei o nome ), comprou uma coleção de MPB, que tinha Chico Buarque, Gilberto Gil, Dorival Caymmi, Lupicínio Rodrigues, Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli e Roberto Menescal, entre outros cantores e cantoras que para mim são referências que guardo até hoje.

Ainda na década de 1980, que considero o auge da música e da cultura pop no mundo, veio a efervescência do rock nacional e internacional que ampliou minhas referências no diz respeito ao repertório musical. Eram as bandas de rock do eixo sul e sudeste que despontavam no início da abertura democrática, final da ditadura militar no Brasil e outros países da Latinoamérica. Na época o Rock’in’Rio exerceu uma influência também na audição de bandas .

Em AÇÂO !

No Brasil bandas como Legião Urbana, Titãs, Ira!, Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso, Capital Inicial, Plebe Rude, Engenheiros do Hawaii, entre outras que além das guitarras e ritmo frenético, traziam consigo as mensagens sobre liberdade, juventude, cultura, política e sociedade que influenciariam a juventude naquela década de incertezas e desafios.

No final da década de 1980 despertei o interesse em aprender tocar um instrumento musical, pois meu pai sabia tocar, assim como um primo que também “arranhava” o violão como se diz popularmente. Sendo assim ganhei meu primeiro violão do meu tio, Raimundo Carlos, aos quinze anos de idade, que por sinal também é meu padrinho de batismo.

Leão do Norte no Teatro Banzeiros em 2010 !

Morava no conjunto habitacional Marechal Rondon desde 1983, onde os meus amigos também gostavam das músicas que veiculavam na grande mídia, época em que as rádios tocavam músicas desses estilos quase que 24h por dia.

Alguns desses amigos já começavam a formar suas primeiras bandas de garagem e fui me enturmando com o pessoal, que na época já andavam de skate nas poucas ruas asfaltadas do Marechal e na quadra da escola José Otino de Freitas.

Nessa mesma época começavam a chegar nas bancas de revistas da cidade algumas publicações sobre as bandas do cenário internacional, que também era veiculada pela mídia televisa em videoclipes e programas musicais. Informações de bandas como U2, The Cure, The Cult, etc. onde tínhamos a chance de conhecer um pouco mais desses artistas através das entrevistas e reportagens. Nesse contexto as lojas de disco de Porto Velho também desempenhavam o seu papel de propagação da música em discos de vinil. Lojas como a Primorosa que ficava na Av. Presidente Dutra e a Discolândia na Sete de Setembro do nosso amigo Tito Barroso, eram lugares bem frequentados e onde sempre ia comprar discos e fitas com o dinheiro que meu pai me dava.

” Aldeia de Sons”, projeto de Punk Rock acústico no Mercado Cultural em 2015

No ano de 1988 começou a circular no Marechal as primeiras fitas K7 de bandas do circuito alternativo e que não eram conhecidas pela grande maioria da juventude. Essas fitas eram copiadas e espalhadas entre os amigos da escola e de outros bairros, como Liberdade e o conjunto Santo Antônio. Essas bandas tinham um som mais estridente, com guitarras distorcidas e vozes guturais, que expressavam o descontentamento a cerca dos problemas sociais e muitas das vezes até propunham alguma solução em suas letras para questões como: corrupção, violência, guerras e desemprego etc. 

Esses grupos eram compostos em sua maioria de jovens suburbanos do eixo do sul do Brasil que de alguma forma exerceram uma influência cultural sobre alguns jovens de Porto Velho, ainda que de maneira tardia, devido a distância e a falta de informação na época.  Bandas como Cólera, Olho Seco, Replicantes, Inocentes, Restos de Nada,  entre outras bandas internacionais como Ramones, Sex Pistols, Dead Kennedys, eram oriundas do movimento punk, surgido na Inglaterra em meados da década de 1970 e que chegou no Brasil no início da década de 1980. Quando o som e as ideias dessas bandas chegaram na cidade, seu conteúdo teve uma boa assimilação cultural no que diz respeito a questão comportamental, a ideia revolucionária típica da juventude e à essência da práxis do punk rock, a máxima do it yourself, isto é, “faça você mesmo”, a sua banda, a sua música, a sua apresentação, a sua turma, a sua história.

Em 1989 tive que morar novamente em Belém/PA, pois tinha passado no vestibular do curso de Arquitetura e Urbanismo, e fui residir na casa de minha vó Bibi. Lá também continuei o meu contato com a música, seja tocando violão com os amigos da vila, seja participando de bandas de garagem e indo à shows como o “1º Grito Punk”.

Em 1990 retornei pra PVH, pois não tive muita afinidade com a Arquitetura e minha vontade era continuar tocando e aqui comecei a tocar com os amigos de outrora. Meio que por falta de criatividade e inspirada em uma banda de Belém, colocamos o nome de nosso grupo de “Delinquentes”, que logo a seguir acrescentamos mais duas palavras pra poder diferenciar da banda paraense homônima que nos cobrou por meio de carta a mudança de nome. O novo nome passou a ser “Delinquentes Hardcore. A formação dessa banda era eu, Eduardo Santana Jr. “Zezório” (guitarra/vocal), Marco Aurélio (baixo) e Tino Boy (Bateria) na qual o estilo das músicas era o hardcore.

Unidos também no gosto pela Arte, em pleno ambiente Escolar !

A década de 1990 foi uma época muito legal em que fizemos várias apresentações com as bandas de nossos amigos e que praticamente tinham o mesmo estilo e ideias, que são as bandas “Vítimas do Sistema”, “Malcriados”, “Banda Guerra”, “Koágola”, etc. Em uma época em que a cidade era carente de espaços para música independente. Os locais de apresentação iam desde as casas dos nossos amigos até os prédios no centro da cidade, como a FRAB (Federação Rondoniense de Associação de Bairros), em que funcionou a primeira Câmara Municipal da cidade, na ladeira da rua José Bonifácio e à época funcionava uma associação comunitária, em que aconteceu o show “Calamidade Pública”. Outros espaços também abriam as portas pra gente e outras bandas de rock, como a Escola Barão de Solimões, o bar Lins Drinks, o SESC com diversas atividades pra muitos artistas locais, o Clube Ferroviário, com o Fé Rock, organizado pelo Tino Alves, as praças públicas como a Madeira Mamoré e a Aluízio Ferreira, onde existia uma pista de skate onde amigos se encontravam.

A banda D.H.C. chegou a tocar em Cuiabá no ano de 1991, junto com as bandas Blokeio Mental e G.T.W. Nesse período gravamos algumas demos que infelizmente se perderam no tempo. Por volta de 1993 para 1994 a banda passou por uma reformulação e passou a ter uma nova formação que se estabeleceu por mais tempo, continuando eu, Eduardo Santana Jr. “Zezório” (guitarra), Márcio Almeida “Rato Velho” (vocal), André Almeida (baixo) e Van Róneo (bateria). Em 1995 gravamos uma fita-demo intitulada “Vida de Animal”, relíquia que poucas pessoas possuem hoje em dia, fruto da parceria com o DJDedei Edney e o Movimento Hip-Hop, onde criamos o Movimento Cultura de Arte de Rua.

Com a Esposa Rosemeri !

Essa cena alternativa fez com que em 1994 eu me interessasse em aprofundar mais os meus conhecimentos sobre a sociedade e a cultura do mundo. Me inscrevi no vestibular para o curso de História na Universidade Federal de Rondônia (UNIR), onde fui aprovado e me formei e até hoje estou atuando como professor da rede estadual e municipal de ensino. Foi uma época muito boa, momento de contato com a produção acadêmica, na formação de novas relações de amizade que perduram até hoje e principalmente por lá ter conhecido a minha esposa, colega de sala do curso de história, a Rosemeri Tramontini, com a qual tivemos dois filhos: o Pedro e o Gustavo Streit de Santana.

A partir de 1995 a cena alternativa cultural na cidade se ampliou, surgindo novas bandas como a “Artigo 5” e a “Krudaj”. Com as novas bandas surgiram novos espaços para apresentações, tendo um deles se destacado entre os outros: a “Oficina do Rock”, do saudoso “Heavy Ney”. Uma oficina mecânica de automóveis no centro da cidade, em que se transformava num point da cena underground local com o show de diversas bandas independentes. 

Sempre procurando apoiar a boa Cultura da nossa Região !

Já no final da década de 1990 e no início dos anos 2000, outros jovens começaram a renovar a cena na cidade e criaram um movimento denominado “Tribo do Rock”, nome de um pub que durou pouco tempo de vida e que contribuiu de certa forma com o surgimento algum tempo depois da cena musical beradeira em Porto Velho.

Em setembro de 2000, mudei com minha família para a cidade de Florianópolis/SC para tentar a vida, momento em que decidi dar um tempo na atividade musical. Essa mudança não foi como idealizamos e retornamos para Porto Velho graças à Deus, no final de 2001. Nesse tempo fiquei apenas compondo algumas músicas, tocando meu violão, fazendo algumas poesias, onde participei do Festival Aberto de Música do Sesc, o FAM, com a música composta em Florianópolis intitulada “São Gonçalo do Amarante”, o santo protetor dos violeiros, inspirada no programa “Viola Minha Viola”, de Inezita Barroso. 

Ensaio da Leão do Norte em 2023

No ano de 2004 participei da fundação da banda de reggae “Leão do Norte”, estilo até então inédito na cidade, com os amigos de outrora, Marco Aurélio (baixo) e Van (bateria), Cláudio (teclado) que havia tocado junto na “Banda Raul”, juntamente com a família do então Ras Uilivan (voz), Cris Nascimento (voz), logo em seguida o Cláudio saiu e cedeu a vaga pro Guilherme Barros no teclado, recém-chegado do Rio de Janeiro, integrante da banda Dread Lion (RJ).

No Leão do Norte escrevi algumas músicas como “Em Algum Lugar no Infinito”, “Testemunho”, “Enraizando o Amor” e “Beradeira”. O grupo se apresentou em alguns festivais culturais na escadaria da UNIR, no Madeira Festival e no Festival Beradeiros. Participamos da abertura de algumas bandas e artistas em Porto Velho como, Chico César, Natiruts, e em outras cidades como Manaus/AM, Belém/PA e Boa Vista/RR. Em 2018 a banda gravou um CD intitulado “Liberdade”, no qual participei gravando as guitarras, disponível nas plataformas de streaming. 

Recital do Centro de Artes Som na Leste em 2018

Esse momento foi bem importante e marcou toda uma época, pois a cidade contava com muitas bandas, coletivos culturais e diversos festivais de música, de teatro e artes em geral, propiciado pelo crescimento da cidade proveniente da construção das usinas do rio Madeira, que também despertou a luta pela preservação da Amazônia.  Nesse contexto começou a despontar na cena musical a temática do termo “beradeiro”, uma inspiração da cultura ribeirinha e nortista para as composições e apresentações de artistas locais em que o Leão do Norte compartilhou os palcos, com as bandas Quilomboclada, Beradelia, entre outras. 

No ano de 2007 iniciei a minha segunda graduação, o curso de Licenciatura em Música, voltado aos professores de Artes do município de Porto Velho que não tinham a formação superior nessa área. O curso foi ofertado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com parceira com a UNIR e a Prefeitura Municipal de Porto Velho. Esse foi mais um momento importante em que conquistei mais uma realização profissional, a formação superior em Música e poder trabalhar com música no meu cotidiano. No ano de 2008 comecei minha carreira como professor de violão e teoria musical na Escola Municipal de Música “Som na Leste”, hoje denominada de “Centro de Artes e Cultura Escolar Som na Leste”, onde trabalho atualmente, dividindo a função de professor de História no Instituto de Educação Carmela Dutra.

MAPO na Estrada de Ferro Madeira-Mamoré em 2016

Entre 2015 e 2016 fiz parte da Madeira Popular Orquestra (MAPO), tocando guitarra com grandes músicos da cidade, entre eles professores e militares.  A MAPO tem em seu gênero e estilo musical a formação de Big Bands, banda inspirada nas orquestras de jazz dos anos 1940/50, com bastante naipe de metais e com repertório vasto e eclético que vai do jazz ao baião e de baladas ao samba, na qual tive oportunidade de participar tocando com o grupo no “Projeto Pixinguinha” na cidade de Rio Branco/AC.

Formatura do Curso de Licenciatura em Música (UFRGS) em 2012

No ano de 2017 consegui realizar mais um projeto pessoal e profissional, meu ingresso no curso de Mestrado na UNIR em “História e Estudos Culturais”, era o momento de registrar uma parcela de minha história e da cena musical portovelhense. Meu orientador, professor Valdir Souza, me incentivou desde o início a pesquisar a questão da cultura beradeira em Porto Velho, sua questão identitária e cultural resultando depois de muita batalha, correria e dedicação na dissertação “Cena Musical Beradera: em busca de uma identidade cultural”. Foi oportunidade de estudar os processos de formação de identidades culturais em meio a sociedade contemporânea e sobretudo o sujeito enquanto agente histórico de transformação nesses tempos de mudança global, de interculturalidade e rompimento de fronteiras culturais que se entrecruzam nas sociedades atuais e especificamente em nossa cidade na margem de grande rio, que é o Madeira.

Com Alunos no Centro de Artes Som na Leste em 2019

Depois da pandemia, 2021 em diante, participei da gravação do CD da banda “Malcriados” (Lei Aldir Blanc) e em algumas apresentações no Mercado Cultural, no Festival Casarão, entre outros com essa banda que é uma das mais antigas em atividade em Porto Velho. 

Ensaio da Madeira Blues Band em 2023 !

Atualmente estou me dedicando aos projetos das escolas em que trabalho, nas áreas do patrimônio cultural-histórico local, no estudo do violão e da música brasileira e de um projeto musical com a “Madeira Blues Band”.. E nessa caminhada do mesmo modo atendendo a família, como há de ser, e com os demais compromissos que a vida nos oferece de bom”.

FAMÍLIA !

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